sexta-feira, 16 de abril de 2010

Medo de Errar


Aqui em Porto Alegre, tem um lugar chamado “Boteco do Natalício”. Esse local é famoso por ter quadros engraçadinhos, que lembram os famosos ditados de para-choques de caminhões. Um deles diz o seguinte: “herrar é umano”. De fato, não há nada mais humano que errar, porque é errando que aprendemos a fazer o que é certo. Por isso, acho a cobrança excessiva pela perfeição um enorme contra-senso.
Lembro-me de situações, nas minhas aulas de inglês, em que certos alunos ficavam relutantes em formular frases ou em expressar opiniões com medo de que pudessem cometer erros. Sempre tentei (e ainda tento) encorajá-los a não ficarem se monitorando exageradamente, visto que o aprendizado não acontece dessa forma. É preferível ouvir o que eles têm a dizer, mesmo que ocorram erros gramaticais, a não ter acesso ao que eles pensam. Nessas horas, demonstrar que estão em terreno seguro e que confio neles é importantíssimo. Sempre tive a crença de que corrigir erros pode ser um processo conduzido aos poucos, sem traumas, sem dores, sem cobranças demasiadas e em um clima amigável.
Quando erramos, significa que tivemos coragem de ultrapassar a barreira que nos impedia de fazer alguma coisa. E, é claro, damos nossa cara a tapa. O mundo evolui em função daqueles que são corajosos o suficiente para não ficarem na inércia do apego ao que já está garantido e comprovadamente certo, terreno muito mais confortável.
A perseguição pela perfeição, creio, deve ter origem na nossa mais tenra idade, quando começávamos a nos dar conta de que, quando acertávamos, éramos recompensados e, quando errávamos, éramos punidos. Tirávamos dez na prova e ganhávamos um presente ou um elogio; éramos desobedientes e éramos colocados de castigo. Portanto, parece-me que a cobrança em acertar a todo custo acaba vindo de nós mesmos e se estende aos que convivem conosco.
Eu acredito que temos que fazer o que é certo, seja no trabalho, seja na nossa vida pessoal. O problema reside em querermos acertar sempre. Quem consegue tamanha proeza? Estamos, a todo instante, querendo ser exemplares: amigos exemplares, funcionários exemplares, namorados exemplares, filhos exemplares e o que mais vocês imaginarem. Bem, chega um ponto em que cometemos um deslize, afinal, não somos robôs.
Além do mais, quem foi que disse que o perfeito é melhor que o imperfeito? Tenho certeza de que todos nós já vivemos grandes momentos, realmente marcantes, e nem estávamos tão bem arrumados assim naquela ocasião. É bem comum até que o dia nem estivesse tão bonito. Ao passo que, às vezes, tentamos planejar tanto um evento para que ele seja perfeito que, no fim das contas, tudo acaba ficando plastificado demais e humano de menos.
Pode ser que o grande medo de errar resida no medo de sermos julgados. Ora, quando erramos, o outro está tendo contato somente com uma parcela nossa, mas nós somos muito maiores do que um erro. É por causa disso que julgar é muito perigoso. Se não quisermos ser julgados, não mais julguemos. Se quisermos perder o medo de errar, comecemos por aí. Ah, e não nos esqueçamos do bom humor, indispensável na superação das “pisadas de bola” que damos pela vida afora.

2 comentários:

  1. nossaaaa.. me identifiquei muito com esse seu post... muito bom!!!!
    eu errei.. e estou com medo de errar de novo... ai ai.. rs
    beijiinhos

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  2. Já dizia uma amiga minha, de longa data: "É preferível arrepender-se de algo que fazemos a algo que não fizemos"! Ótima análise e parabéns pelo blog!

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