sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Brasil: um País de alguns


Há duas semanas, vários bairros de Porto Alegre foram assolados por uma falta de água que parecia interminável. Moro no Bom Fim, e ali – pelo menos em meu prédio – a escassez perdurou por mais de uma noite. Apesar de agora já estar tudo normalizado, lembro-me do transtorno infernal que foi ter de ficar sem água por horas a fio. Fazia muito tempo que eu não enfrentava situação tão desagradável quanto essa. Senti imensa alegria quando a distribuição voltou ao normal, foi um alívio indescritível.

Algo aparentemente tão singelo quanto ficar sem água por algumas horas fez com que eu imaginasse a vida de quem enfrenta esse transtorno diariamente e acaba tendo que se acostumar com esse tipo de situação como se fosse algo normal. Todo mundo sabe que tal quadro, infelizmente, acontece em várias partes do mundo, em especial nas regiões mais pobres. No entanto, o que me deixa apavorada é ter a ciência de que o não acesso à água e a tantos outros recursos básicos e essenciais de subsistência ocorrem com inúmeros brasileiros do Oiapoque ao Chuí. O abismo que existe entre nós – eu, que publiquei este texto em meu blog, e você, que o está lendo – e a maior parte da população do Brasil é assombroso. O que me deixa ainda mais apavorada é que tudo isso que estou abordando virou uma espécie de lugar comum; por não ser mais novidade, parece que não choca tanto as pessoas. Céus, o que está acontecendo com este País? Por que ele ainda é um País “de alguns” e não “de todos”?

Nessas horas, fico pensando se o progresso para valer, e não aquele para inglês ver, é realmente uma meta dos governantes. Afinal de contas, pode ser que “progresso” signifique o fim de uma série de regalias para muitos políticos nesse Brasil afora (que fique claro que estou me referindo àqueles políticos que desvirtuam o ofício, pois quero acreditar que existem aqueles que são idôneos). Quem sabe seja mais cômodo apenas ficar agradando às massas com migalhas, de modo que elas fiquem cegas à real dimensão dos problemas e acabem achando que, no fundo, está tudo bem. Esse círculo vicioso fez com que grande parte dos cidadãos se desiludisse com as promessas vazias realizadas nas épocas de caça aos votos. Provavelmente, é por isso que a nação está sendo assolada por tamanho desencanto em plena época de processo eleitoral. Estamos cansados de ser feitos de bobos, e os Tiriricas da vida não ajudam em nada a mudar a imagem da política brasileira.



A grande questão é: o que deve ser feito? Como transformar esse limão azedo que chupamos há tanto tempo em uma doce limonada? Talvez o primeiro passo seja votar em candidatos(as) que apresentem ideias com que realmente compactuamos, sem ficar com aquela neurose a respeito da posição que eles ou elas ocupam nas pesquisas. Não acho que seja um bom critério votar apenas em quem tem maiores chances de ganhar, achando que é um desperdício escolher alguém que, por mais que acreditemos nas propostas, parece ser um(a) concorrente inexpressivo(a) nos índices de intenções de votos. O segundo passo é cobrar de quem votaremos, neste três de outubro, o cumprimento de seus planos de governo, informar-nos, nos meios de divulgação oficiais, sobre o que têm feito e repreendê-los ou elogiá-los de acordo com suas atuações.

Bem, em linhas gerais, já foram realizados muitos progressos aqui, tanto no processo eleitoral quanto nas condições de vida de todos nós. Temos que reconhecer as melhorias realizadas até então, mas não podemos deixar de lado tudo que ainda precisa ser feito, pois ainda estamos bem longe do ideal. Logo, para que o País prospere, não enxergo outro caminho a não ser uma fiscalização mais atuante por parte de cada um de nós em relação àqueles e àquelas que estarão em breve no poder. Para isso, temos que dar um basta nessa letargia generalizada. Temos, urgentemente, que voltar a acreditar no Brasil.
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