domingo, 7 de fevereiro de 2010

Vida: sem escalas nem conexões

Neste mês de fevereiro, completo um ano de trabalho no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre. Minha função ali é fazer registros de manifestações dos problemas enfrentados por passageiros com as empresas aéreas. Já adianto que o propósito deste post não é detalhar o que faço, mas sim falar um pouco sobre o aeroporto, um lugar que envolve tantas esperanças por parte de quem chega e de quem parte. O fato de ficar parada em terra, apenas observando quem passa por ali, me dá outra perspectiva do que esse lugar representa: não é apenas o movimento que aparece, pois uma hora, inevitavelmente, parar se faz necessário. O filme Amor sem escalas (Up in the Air, 2009, EUA, direção e roteiro de Jason Reitman) aborda essa questão.



A história é sobre um executivo, Ryan Bingham, vivido pelo excelente George Clooney, que viaja de avião pelos Estados Unidos quase todos os dias do ano a fim de demitir funcionários de outras empresas. Logo no início do filme, vemos um homem decidido, seguro, que sabe muito bem o que quer da vida. Ir de um lugar ao outro é o seu combustível, é o que dá empolgação a ele. Além disso, um dos objetivos do personagem é acumular o maior número possível de milhas aéreas. Detalhe: só por prazer, sem que haja um objetivo maior para tal.

Não quero estragar o filme para aqueles que ainda não o assistiram. Por isso, comento apenas duas cenas muito parecidas, que mostram com precisão o que Ryan sente quando precisa ficar em terra, após terminar uma bateria de demissões. Vemos o desânimo estampado em seu rosto. É como se ele não enxergasse propósito em estar ali no seu apartamento quase deserto. Eu me identifiquei muito com esse simbolismo, pois é mais ou menos isso que sinto quando finalizo alguma etapa de minha vida para a qual eu estava me preparando muito. Quando o evento esperado já passou, toma conta de mim uma desorientação, uma sensação de não saber o que fazer. Porém, esse “buraco” desaparece quando parto para um novo projeto. Aí, as coisas mudam. Voltam o entusiasmo e a alegria de seguir adiante, o que ficava evidente com o personagem de George Clooney quando retornava ao avião.

Acredito que todos nós passamos por isso. É algo muito semelhante a estarmos com uma viagem marcada para um lugar muito especial. Assim, o dia em que ela vai acontecer de fato acaba virando um grande acontecimento. No entanto, tenho a sensação de que o envolvimento com os preparativos é, em alguns casos, mais interessante do que chegar efetivamente ao local desejado. Ou, como muitos já disseram: o barato está na própria viagem, e não em chegar onde se quer.

Talvez seja esse o motivo que faz do aeroporto um lugar de tamanha contemplação para nós e para Ryan Bingham: ele representa o caminho a ser trilhado, o novo, o diferente, a mudança. Será que o durante da viagem, não importa qual o tipo, é melhor do que viver o propósito desejado? Às vezes, fazemos apenas uma escala, uma parada estratégica em algum lugar para, em seguida, continuarmos naquela aeronave rumo ao destino final. Já em outras circunstâncias, temos que pegar uma conexão em determinado aeroporto da vida e partir para outro rumo em outra aeronave. Bem, talvez não importe muito como a viagem ocorra. Pode ser que o essencial mesmo seja nunca perdermos a curiosidade em saber o que nos espera, estejamos em movimento ou parados. Resta apenas não nos assustarmos com as turbulências no caminho (ou com os terremotos em terra).

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